Pouco passava da meia-noite quando acordei com uma vontade estranha de ir à casa de banho. Sentei-me na sanita e sem esforço nenhum senti o chichi a sair... não, afinal tinha-me rebentado as águas.
- Talvez não seja isso, vamos esperar um bocadinho para ver se esta pressão estranha na barriga pára. Não parou, continuou em intervalos regulares, eram as contrações...
Nessa tarde, a obstetra tinha andado a mexericar lá por baixo para tentar apressar a coisa e a indução estava, de qualquer modo, marcada para a manhã seguinte às 8:00 na Maternidade.
Na confusão, o carro virou para o Hospital de S. João, era mais perto.
- Estou, D. Alice, vamos a caminho do Hospital, a menina vai nascer...
- Para que é que estás a inventar Luís, ainda há bocado saí daí de casa e estava tudo normal...
A minha mãe nunca mais dormiu.
Desta vez não consegui descer as escadas para o piso da obstetrícia pelo meu pé. A dor era chata, um aperto estranho no fundo da barriga.
- Ora bem, está em trabalho de parto, sim senhora, mas isto ainda vai demorar umas horitas. Pode ficar ou pode voltar mais tarde se quiser.
Fiquei, claro. Deviam ser umas 2 da manhã. Até me darem a epidural foi um tormento... eu estava descontrolada, essa cena de controlar a respiração deve funcionar, mas eu não me conseguia concentrar.
Estou cheia de sede, tenho calor... ele sopra-me na cara para me refrescar(?)...
- PÁRA COM ISSO!!
- Ó menina, ele não tem culpa!...
Finalmente vem o anestesista. Não me posso mexer para tomar a epidural, coisa quase impossível no meio de contrações dolorosas. Já está!
Engraçado, belisco as pernas, sinto a pressão, mas não a dor! A partir daí, só o monitor regista as contrações, eu já não as sinto.
Consigo dormir algumas horas enquanto ele, coitado, olha para a televisão na sala ao lado, não deve estar a ver nada.
Oito da manhã, muda o turno e o corropio no meu quarto recomeça, agora com outras caras. Agora várias pessoas entram e saem amiúde.
- É agora, vamos a isto. Quando sentir as contrações faça força!
Eu não sinto as contrações, o monitor é que as indica.
- Faz força agora! Mais uma vez e já está!
Só me lembro de várias pessoas à minha volta e um médico novo a fazer força com os braços no topo da minha barriga a empurrar a bebé para baixo.
Não sentia dor nenhuma. Sentia a pressão do corpinho dela e senti nitidamente as perninhas a sair. Nunca me hei-de esquecer dessa sensação.
- O pai quer cortar o cordão?
- É melhor não. A voz treme-lhe.
Vejo-a pela primeira vez. Os olhos enormes muito abertos e a linguazinha fora e dentro a lamber os lábios. Tão linda. Tão perfeitinha a minha Bia!
Eram dez horas certinhas!
Enquanto tratam de mim, vejo que a embrulharam e colocaram numa mesinha à espera do primeiro abraço. Ela continua com os olhos muito abertos e a linguazinha de fora, muito atenta aos barulhos que a rodeiam.
Ainda senti a darem-me os últimos pontos, o efeito da epidural já estava a passar, mas eu já só pensava no momento seguinte.
Deitei-me de lado com a Bia junto a mim. Ela estava ali. Parecia mentira. Procurou logo a maminha, como se fizesse isso a vida toda :) e ali ficamos um bom bocado só a olhar para ela, como se não existisse mais nada no mundo.
Foi precisamente há 14 anos atrás! Parabéns minha princesa! Adoro-te miúda!!
Muitos parabéns para a Bia e para os papás, claro! :)
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