Este é um daqueles posts escritos com o lápis da alma. Diretamente daquele sítio sombrio onde ninguém ousa entrar e de onde os pensamentos têm vergonha de sair...
Esta sou eu a expurgar os meus sentimentos mais obscuros...
Eu não gosto de ver fotos minhas do passado.
Tenho vergonha de me ver nelas.
Tenho vergonha de pensar que eu um dia permiti-me chegar onde cheguei.
Tenho pena de mim, de na altura pensar que eu não merecia lutar por mim, que aquilo era o melhor que eu podia ser, que não valia a pena eu esforçar-me para mudar... que eu não valia a pena...
Esta foto hoje está colada no espelho do meu quarto.
Não gosto dela.
Olho para mim e vejo uma pessoa que apesar de sorrir, tem uma expressão triste. E é estranho, porque eu nunca me senti triste com a minha vida.
Aliás eu acho que nunca olhei para o espelho e vi a pessoa que vejo hoje nessa foto.
Eu nunca me apercebi de como estava tão grande.
A miúda dessa foto tinha 24 anos e usava calças de cintura elástica e camisolas de velha, literalmente da gaveta da avó... as lojas da moda estavam interditas ao tamanho dela.
A foto está hoje colada no espelho para eu me lembrar sempre
onde eu já estive um dia.
Está lá para me mostrar que eu consigo tudo o que eu quiser... que eu sou uma vencedora... que eu mereço sentir-me bem comigo...
Mesmo nos dias em que eu não me sinto uma vencedora e que ultimamente têm sido muitos.
Ultimamente e inconscientemente, tenho desviado o meu sentimento do orgulho do longo caminho que já percorri para o arrependimento dos passos atrás que tenho dado.
E apesar de ouvir amiúde que eu sou uma guerreira, uma pessoa extraordinária com uma garra imensa, esse sentimento dentro de mim tende a desvanecer-se.
E eu tenho de voltar a acreditar nisso!!
Porque eu tenho um medo incrível de voltar a ser a pessoa de olhar triste da foto.
Tenho medo de não me aperceber de estar a voltar a trilhar esse caminho,
Porque eu nem quando for velha quero voltar a ser obrigada a vestir roupa de velha.
Porque daqui a 10 anos eu quero olhar para as minhas fotos de 40 e sentir orgulho na pessoa que lá vejo e não pena como sinto ao olhar para a foto de 24.
Porque de algum modo eu desperdicei os melhores anos da minha vida a achar que eu não merecia amar-me e mimar-me, quando na verdade o meu corpo é o bem mais precioso que eu tenho e eu tenho de o amar e de cuidar dele.
Eu mereço sentir-me bem na minha pele. Eu mereço olhar para as fotos e pensar
Porra, estavas bem! em vez de ter pena e vergonha de mim.
Eu nunca mais quero sentir isso de mim...
Não posso dizer que tenha adorado os meus vinte. Sim, foi a altura mais marcante da minha vida, foi quando nasceu a minha filha, um marco, para quem, como eu, nasceu para ser mãe. Por isso fico triste por o sentimento que tenho ao olhar para o eu da altura seja pena e vergonha.
Dos meus trinta já gostei mais, principalmente estes últimos anos, mas tenho em crer que os quarenta serão ainda melhores. A maturidade aliada à descontração e a uma certa dose de loucura, levam-me a pensar mesmo isso...
Só tenho mesmo é de voltar a acordar a guerreira, a pessoa extraordinária que parece andar adormecida dentro de mim...